Doença renal crónica em idosos

Estádios da doença renal crónica - Dois idosos a falar na rua

 

O envelhecimento fisiológico renal caracteriza-se por uma redução da taxa de filtração glomerular renal. Por outras palavras, o rim faz o seu trabalho de filtração de uma forma mais lenta, da mesma maneira que a locomoção de um idoso também é mais lenta, mas mantendo a função preservada, ou seja, chegando ao mesmo lugar.

Os idosos são os maiores consumidores de medicação.

Esta situação deve ser diferenciada da presença efetiva de doença renal no idoso, situação em que o funcionamento dos rins não é adequado e não está relacionado com o declínio fisiológico da idade. Nas situações de doença, e à semelhança do que acontece em qualquer outro doente jovem ou adulto, o mau funcionamento do rim pode ser tão grave que haja necessidade de algumas intervenções. Uma delas é a revisão da medicação.

Os idosos são os maiores consumidores de medicação, por acumularem também mais patologias, e alguns medicamentos podem prejudicar o funcionamento renal. Medicamentos para a dor do grupo dos anti-inflamatórios não esteroides, frequentemente tomados pelos idosos devido à sua patologia osteoarticular degenerativa, podem ser muito prejudiciais e as suas indicações e alternativas revistas.

Em Portugal, a transplantação renal raramente é efetuada em doentes acima dos 65/70 anos.

A outra intervenção substancial do nefrologista é preparar o doente para o tratamento de substituição renal se e quando os rins “pararem”. 

Em Portugal, a transplantação renal raramente é efetuada em doentes acima dos 65/70 anos, uma vez que o risco da intervenção e imunossupressão é superior ao benefício da mesma. Mas o envelhecimento nos idosos é altamente heterogéneo: a idade é pouco significativa para as decisões a tomar, uma vez que outros fatores mais importantes se podem sobrepor, como sejam: as doenças associadas, a funcionalidade, a autonomia e a independência. Assim, um idoso poderá ser candidato a transplante, apesar de não ser a norma.

Existem doentes renais que, pelas comorbilidades avançadas que apresentam, não beneficiam, em termos de tempo ou de qualidade de vida, de nenhuma terapêutica de substituição da função renal.

Quanto às modalidades de diálise (hemodiálise ou diálise peritoneal), não há diferença entre ambas, à semelhança do que acontece nos doentes jovens. O único ponto a salientar é que a diálise peritoneal é uma modalidade que depende do doente para ser efetuada, ao contrário da hemodiálise que é feita por um enfermeiro em centro de hemodiálise. Portanto, se o doente não estiver capaz de efetuar a técnica pode precisar que seja um cuidador a fazê-lo por si, ou, se não o tiver, esta modalidade não deve ser uma opção. 

Finalmente, existem doentes renais que, pelas comorbilidades avançadas que apresentam, não beneficiam, em termos de tempo ou de qualidade de vida, de nenhuma terapêutica de substituição da função renal. A estes doentes devem ser oferecidos cuidados paliativos. Os doentes devem, assim, ser acompanhados em consultas especializadas  com o objetivo de controlar os sintomas da doença renal, promovendo a qualidade de vida, mas sem serem submetidos a técnicas mais invasivas. 

A escolha destas opções deve ser sempre feita em articulação com o nefrologista assistente que deverá elucidar sobre as particularidades de cada idoso, de modo a melhor adequar o tratamento à pessoa em questão.

Ana Farinha - Nefrologista 

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Imagem de Cristina Gottardi via Unsplash