Terapêuticas de substituição da função renal - Diálise Peritoneal

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O que acontece se os rins ‘pararem’?

Os rins são órgãos que servem para filtrar o sangue a assim remover os tóxicos e água, produzindo urina. Quando os rins deixam de funcionar e ‘param’ existem duas hipóteses de substituir as suas funções: uma é pondo um rim ‘novo’ (transplante) e a outra consiste em fazer a desintoxicação do sangue através de tecnologias externas (diálise). Dentro das opções de diálise existem duas possibilidades: hemodiálise (limpeza através de uma máquina) ou diálise peritoneal (limpeza através de soluções).

Nenhum meio de substituição da função renal é tão completo como o original (rim nativo), de forma que nenhum método é totalmente eficaz ou por outras palavras: nenhum método cura o doente renal crónico da sua doença.

 

Diálise Peritoneal – uma das opções de diálise

A diálise peritoneal é uma técnica de diálise que permite ‘limpar’ o sangue através da introdução de uma solução especial na barriga (através de um cateter). Este fluido coleta os resíduos e o excesso de sal e água do sangue que depois é drenado para fora da barriga.

 

Onde e como é feita a diálise peritoneal?

A diálise peritoneal é um tratamento que é feito em casa pelo próprio doente ou por um familiar. Não precisa de cuidados de enfermagem para a realização desta técnica. O doente liga o cateter à solução de limpeza que permanece por um determinado período de tempo e depois é drenada. O revestimento da cavidade abdominal (o peritoneu) atua como uma membrana que permite que o excesso de líquidos e resíduos se difundam da corrente sanguínea para o líquido de drenagem. O tempo de permanência e o número de trocas do fluído de limpeza é determinado pelo médico de acordo com a condição do doente.

 

Dois tipos principais de diálise peritoneal:

  • Diálise peritoneal ambulatória contínua – as trocas são feitas de forma manual (cerca de três a cinco trocas durante o dia e uma permanência durante a noite) pelo próprio doente. Cada troca leva cerca de 30 a 40 minutos.
  • Diálise peritoneal automatizada – neste tipo é uma máquina que faz as trocas, o que ocorre habitualmente durante a noite enquanto o doente dorme, deixando o doente livre para as suas atividades durante o dia.

 

Independentemente do tipo de diálise peritoneal escolhida, esta é feita em casa. O doente apenas se desloca ao hospital uma vez por mês (em média) para ser observado pelo médico e enfermeiro que conferem a adaptação da técnica. Em situações de urgência, um médico e enfermeiro estão sempre disponíveis para atender ocorrências.

 

Quais os requisitos para a diálise peritoneal?

Antes de iniciar a diálise peritoneal, é necessária uma pequena cirurgia para colocar um tubo (cateter) que permita o liquido entrar e sair da barriga. Uma extremidade do tubo permanece dentro da barriga e a outra fica fora do corpo, por onde se faz entrar o líquido.

Antes de iniciar a técnica, um enfermeiro ensina os procedimentos.

 

Que problemas podem acontecer durante a diálise peritoneal?

Uma infeção da pele ao redor do tubo.

Uma infeção dentro da barriga (denominada ‘peritonite’). A peritonite pode causar dor de barriga, febre, náuseas ou diarreia e o líquido que sai da barriga virá turvo. O tratamento geralmente inclui antibióticos que são administrados na barriga com o fluido de diálise.

Uma hérnia. A hérnia ocorre quando um músculo da barriga se torna fraco. Esta situação geralmente não dói e é tratada com cirurgia.

 

Quais são os cuidados a ter em diálise peritoneal?

Pesar-se todos os dias.

Prestar atenção à pele em torno do cateter e seguir as instruções que tenham sido dadas pelo médico ou enfermeiro.

Seguir a dieta recomendada. Apesar da diálise peritoneal permitir alguma liberdade maior em relação ao consumo de água, não deve haver abusos.

 

Quais as vantagens e desvantagens da diálise peritoneal?

Vantagens - Como já foi dito atrás, as vantagens não se centram em diferentes eficácias, mas naquilo que pode ser mais adaptado ao estilo de vida de cada doente. A diálise peritoneal permite menos idas ao hospital/centro de diálise e maior liberdade no que diz respeito às restrições alimentares.

Desvantagens – As pessoas em diálise peritoneal têm de ser responsáveis pelo seu próprio tratamento (entender como configurar o equipamento para cima e usar as mãos para ligar e desligar pequenos tubos) ou ter alguém que o possa fazer por si, diariamente. Em termos técnicos, existe ainda um aumento do risco de hérnia pelo aumento da pressão no interior da cavidade abdominal e de infeção no local do cateter ou no interior do abdómen (peritonite).

 

 

As doenças crónicas são situações que implicam uma grande capacidade de adaptação da pessoa à sua condição. As doenças crónicas condicionadas por insuficiência de órgão (aquelas em que uma parte fundamental do organismo deixa de funcionar) são particularmente difíceis e potencialmente limitantes ou mesmo fatais. No entanto, para a insuficiência renal existem ‘máquinas’ que permitem manter o doente vivo, que permitem prolongar a vida que, de outra forma, estaria acabada. Assim, o doente que se depara com a necessidade de iniciar ou se manter em diálise deve encarar esta situação como uma segunda oportunidade de viver que antes do advento destas tecnologias não existia…

 

 

Ana Farinha - Nefrologista

 

 

Imagem: Hidden Dialysis design de Caroline Küchler