Imunossupressão na transplantação

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Importância da imunossupressão na transplantação

 

O sistema imunitário tem a capacidade de distinguir entre o que é próprio do organismo e o que lhe é estranho. Reconhece ameaças externas, defende-o, protege-o contra infeções e rejeita tudo o que é estranho. Esta foi a forma que organismo encontrou para se proteger contra agentes patogénicos e toxinas1.

É por isso que na transplantação de um órgão este é imediatamente reconhecido como não pertencente ao organismo e, nesse sentido, o sistema imunitário vai “atacá-lo”, a menos que seja suprimido. E este é, precisamente, o papel da imunossupressão1,2.

A ação dos imunossupressores é vital para que o organismo aceite o transplante.

A imunossupressão, ou seja, a administração de medicamentos imunossupressores (também designados antirrejeição), tem como objetivo atenuar a resposta imune dos indivíduos que receberam transplantes de órgãos, de forma a prevenir a sua rejeição. Os imunossupressores vão atuar sobre as células de defesa do organismo impedindo a produção ou a atuação dos anticorpos e dificultando o reconhecimento de proteínas estranhas, entre outros2,3.

O uso profilático dos imunossupressores pode ser dividido em duas fases: indução e manutenção. A indução decorre nos primeiros dias após a transplantação, fase em que se utilizam doses superiores. No período de manutenção pretende-se estabilizar a adaptação ao órgão transplantado, limitando a ativação do sistema imunitário. A imunossupressão tem demonstrado um elevado grau de sucesso clínico na rejeição imune dos órgãos transplantados2,3,4.

Esta ação dos medicamentos imunossupressores é vital para que o organismo aceite o transplante. No entanto, por deprimirem inespecificamente todo o sistema imunitário, têm o potencial de interferir também com a defesa do organismo contra outros objetos estranhos, como os agentes provocadores de infeção, deixando o indivíduo exposto a um risco significativamente maior de infeções e até de neoplasias2,3,5.

O sucesso do transplante está dependente de uma toma correta e rigorosa dos medicamentos.

Este é um risco que tem de ser assumido, já que se não estivesse adequadamente imunossuprimido, o organismo rapidamente rejeitaria o transplante. De forma a minimizar esse risco, o tratamento para prevenção da rejeição do órgão transplantado baseia-se numa abordagem em associação e complementar, ou seja, são usados vários medicamentos em simultâneo, cada um dirigido a um alvo molecular diferente da resposta ao órgão transplantado. Os efeitos sinérgicos que se obtêm permitem a utilização dos medicamentos em doses relativamente baixas, reduzindo dessa forma os efeitos tóxicos específicos de cada medicamento e potenciando o efeito imunossupressor2,3,5.

 

Pela especificidade destes medicamentos, o sucesso do transplante está dependente de uma toma correta e rigorosa dos medicamentos prescritos, a vários níveis4,6,7:

Dosagem - A dose dos medicamentos imunossupressores deve ser exata: se por um lado a toma de uma dosagem superior ao prescrito torna o organismo mais suscetível a infeções, por outro, uma dosagem inferior pode conduzir à rejeição do órgão transplantado.

Prescrição - Só devem ser tomados medicamentos prescritos e/ou autorizados pelo médico assistente; em caso de necessidade de utilizar outros medicamentos, o médico deve sempre ser consultado. As interações com outros medicamentos podem conduzir à rejeição do órgão transplantado.

Listagem - Os indivíduos em tratamento imunossupressor devem ter sempre consigo a lista de todos medicamentos que estão a tomar, incluindo doses utilizadas e frequência de utilização.

Efeitos laterais - Como quaisquer outros medicamentos, os imunossupressores podem provocar efeitos laterais. Se tal acontecer, não se deve suspender a sua toma nem alterar a dosagem. Nessas situações, é importante consultar o médico assistente.

Horários - Os medicamentos imunossupressores devem ser tomados sempre nos mesmos horários para garantir uma regularidade nos intervalos entre administrações. A concentração destes medicamentos na corrente sanguínea é um elemento fundamental da efetividade deste tratamento. Devem ser criadas estratégias para reduzir o esquecimento de alguma toma.

 

 

Em resumo, se os medicamentos imunossupressores não forem tomados exatamente como prescrito, o sistema imunitário pode regenerar e atuar contra o órgão transplantado. Portanto, é importante que o tratamento não seja interrompido e continuado conforme prescrito pelo médico assistente.

 

 

André Coelho - Professor da área científica de Farmácia da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL)

 

 

Bibliografia:

  1. Cornell, L.D., Smith, R.N. & Colvin, R.B. (2008). Kidney transplantation: mechanisms of rejection and acceptance. Annual review of pathology: mechanisms of disease, vol. 3, pp. 189-220.

  2. Starzl, T.A. (2008). Immunosuppresive Therapy and Tolerance of Organ Allografts. The New England Journal of Medicine, 358, (4), 407-411.

  3. Halloran, P.F. (2004). Immunosuppressive Drugs for kidney transplantation.The New England Journal of Medicine, 351 (26), 2715-2727.

  4. Pascual, M., Theruvath, T., Kawai, T., Tolkoff-Rubin, N. & Cosimi, A.B. (2002). Strategies to improve long-term outcomes after renal transplantation. The New England Journal of Medicine, 346 (8), 580-590.

  5. BAKER, R. et al. (2011). - Clinical Practice Guidelines Post-operative Care of the Kidney Transplant Recipient – Final Version. The Renal Association. [Em linha] link [Consultado 10 maio 2013]

  6. DEW et al. (2007). Rates and Risk Factors for Nonadherence to the Medical Regimen After Adult Solid Organ Transplantation. Transplantation, 83(7), 858-873.

  7. GERMANI, G. et al. (2011). Nonadherent Behaviors After Solid Organ Transplantation. Transplantation Proceedings, 43(1), 318-323.

 

 

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